A rede de computadores apresenta-se hoje como elemento que pode modificar significativamente a educação presencial. As paredes das salas de aula se abrem, hoje esses tradicionais locais de ensino-aprendizagem têm o tamanho do mundo. As pessoas podem se comunicar, trocar informações, dados, pesquisas a qualquer hora e de qualquer lugar.
Há nítida tendência de que o acesso à Internet, programas de EAD, tecnologia portátil e redes sem fio estejam emergindo, crescendo em popularidade e tornando possível o oferecimento de novas oportunidades para todo tipo de estudante (Schlumpf, 1998). Talvez alguma dessas realidades ainda estejam distantes de nós, principalmente no que diz respeito à capacitação de professores, porém é importante manter em perspectiva o caminho para o qual têm seguido as tendências educativas no que diz respeito ao uso da tecnologia.
Essa nova realidade impõe a necessidade de que o processo educativo seja revisto e que sejam descobertos novos espaços para aprendizagem via rede de computadores. Qualquer que seja o curso de EAD voltado para o professor, Zamudio (1997) nos lembra que ele deve possuir como um dos seus objetivos a autoformação, pois a autonomia do indivíduo, no seu sentido pleno, é um compromisso de todo processo educativo. O mesmo autor sugere que, para contribuir para essa finalidade, os materiais pedagógicos produzidos devem estar acessíveis, ser de fácil consulta, introduzir o professor progressivamente ao conhecimento, à compreensão, à análise e à aplicação do conteúdo a ser trabalhado.
É importante ressaltar algumas considerações relacionadas à construção de novos espaços para a aprendizagem via EAD:
- um curso de EAD via rede deve ser planejado, desenvolvido e avaliado por um grupo interdisciplinar. Devido a complexidade do próprio processo educativo, aliada à complexidade do domínio atualizado das informações e dos mecanismos de interação com a rede, dificilmente um único profissional desenvolverá um trabalho de EAD de qualidade, se trabalhar isoladamente.
- para que um curso via rede seja desenvolvido é fundamental que seja feito previamente um plano instrucional detalhado do curso.
- os professores, pessoal administrativo e de apoio envolvidos em um curso via rede precisam desejar aprender uma maneira totalmente nova de comunicar a mensagem e de garantir que a aprendizagem aconteça.
- o professor ou equipe de professores responsáveis pelo desenvolvimento de um curso via rede devem ter experiência de sala de aula e terem dado o curso presencialmente.
- o professor ou professores que desenvolveram um curso via rede devem ser responsáveis pelo seu oferecimento, pelo menos na primeira vez que o curso for oferecido via rede.
- os alunos que se inscreverem em cursos via rede devem ter experiência prévia de navegação na Internet, ou o curso deve incluir uma unidade introdutória de modo a familiarizar o aluno com esta tecnologia.
- a tecnologia e o pessoal técnico de apoio devem estar disponíveis para que um curso via rede possa ser oferecido.
- a seleção das novas tecnologias a serem utilizadas em programas de capacitação deve ser orientada pelo conhecimento da estratégia de ensino a ser adotada, do nível educativo do programa a ser desenvolvido, da proposta de formação e reciclagem dos professores, e das estratégias de acompanhamento e avaliação do programa.
- em cursos via Internet, sugere-se que sejam feitos exercícios ou testes curtos semanais para que os alunos se mantenham atualizados em relação ao curso.
- sugere-se que a nota final de cursos via rede seja resultante de diversas atividades de avaliação realizadas durante o curso, como por exemplo: exame final - 35%, trabalhos realizados durante o curso - 35%, testes e contribuições nas aulas - 30%.
- os sistemas administrativos precisam estar estruturados para este tipo de curso para que ele tenha sucesso.
- devido aos custos elevados deste tipo de curso, é indicado que sejam feitos convênios entre instituições de capacitação de professores públicas e privadas e empresas. As instituições devem desenvolver projetos e programas cooperativos de EAD, devendo se comunicar nos níveis local, regional, nacional e internacional.
- qualquer que seja o curso via rede, ele só terá chance de sucesso se tiver apoio da administração da instituição.
Focalizando a atenção no professor, aquele que se propuser a ensinar em sistemas de EAD deve, segundo Wolcott (1995), refletir sobre alguns aspectos fundamentais, que são:
a. contexto de ensino - que é alterado devido à separação física entre os participantes do processo e mediatizado pelo uso da tecnologia; o ambiente de aprendizagem assume nova configuração. O professor, para atuar efetivamente, precisa reconhecer essa mudança no ambiente e sua influência no contexto. Mais especificamente, o professor precisa trabalhar com as potencialidades do meio e adaptá-lo às limitações impostas à sua abordagem instrucional;
b. alunos - em programas de EAD eles vivenciam a aprendizagem de maneira diferente do ensino presencial, portanto têm uma perspectiva diferente daqueles que não estão separados do locus de instrução. O professor precisa estar atento e sensível aos obstáculos psicológicos, sociais e técnicos a serem enfrentados pelo aluno de cursos via EAD.
c. Métodos - uma vez que as pesquisas nessa área continuam afirmando que "o que constitui instrução efetiva varia com o contexto" (Brophy & Good, em Wolcott, 1995); daí profissionais de EAD deverem ser cuidadosos em simplesmente não reaplicarem métodos tradicionais de ensino presencial, pois precisam reconhecer que eles não podem ser simplesmente utilizados em situações de EAD. Há necessidade de serem exploradas estratégias alternativas de ensino, contextualizadas no ambiente de EAD. Os métodos de ensino de EAD devem, em geral, buscar reduzir a distância interpessoal, promover a interação, aumentar o feedback e garantir a aprendizagem e a transferência da mensagem.
Willis (1994) comenta que as instituições de ensino que optarem pela EAD e pela manutenção da sua credibilidade e respeito usando tecnologia inovadora para chegar aos alunos em lugares distantes e atendendo às suas necessidades, além de observar os aspectos acima destacados, não podem se intimidar pelos obstáculos apresentados por esta modalidade de ensino. Entretanto, ao invés de lidarem com esses desafios de forma criativa, em geral elas:
- enfrentam desafios não tradicionais de maneira muito tradicional;
- reagem a situações quando elas estão fora de controle, ao invés de responderem ativamente enquanto o sucesso ainda pode ser alcançado;
- ignoram as necessidades e a realidade dos alunos que atendem;
- gastam energia protegendo o território ao invés de criarem parcerias com empresas, indústrias e outras instituições de aprendizagem;
- compram soluções técnicas para problemas instrucionais, elaboradas para consumo "barato", acreditando que se elas funcionam para a instrução "A", vão também funcionar para a instrução "B".
Finalmente, ao se tratar da construção de novos espaços de aprendizagem via EAD, cabe lembrar experiências que utilizavam telesalas (educação via televisão). A raiz de alguns fracassos de telesalas faz-nos pensar que a interação direta professor-aluno é, em muitos aspectos, insubstituível, e que o recurso audiovisual não basta para assegurar a construção de conhecimento. Acontece que o problema é muito mais amplo, educar a distância implica em implementar todo um sistema que vai do diagnóstico das necessidades do público-alvo até a avaliação do processo.
*Lígia Silva Leite(UFRJ)
*Christina Marília Teixeira da Silva(UFRJ)
Deise Santos do Nascimento
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